Aluga-se





O choro convulsivo das mulheres
ressoa e cessa o riso no morro.
Ásperas ladeiras, distantes cemitérios
- aluga-se um barraco.

Nem música, nem violão,
nem a voz charmosa do negro
cortam a tristeza do morro.

Desce o último caixão.
Carrega o corpo da lavadeira
metido num saco.
Trabalhou o dia todo, sob o sol e
a chuva que caía pela tarde.
Com a trouxa nas costas, regressou.
N’ outro dia, não voltou a trabalhar.

Nas costas, um balaço.
Nas contas, dois órfãos
a mais no morro.

Deram de comer aos órfãos aquela tarde
N’outra, veio o dono do barraco
Munido de alvará e álcool:
Desinfetou-o, limpou-o
e logo o  alugou
pois era um barracão bem situado
bem no alto da ladeira. 

E.S.C., /14

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