
A realidade social é o movimento das contradições.
Na sociedade, nas relações
que estabelecemos, sempre que nos posicionamos, movimentamos o microcosmo onde
atuamos. Isso provoca deslocamentos, desconfortos, reposicionamentos, mudanças,
transformações.
Os diversos movimentos
conjugados não necessariamente têm o efeito que imaginamos ou prevemos. E
sempre têm efeitos que não imaginamos ou não prevemos, às vezes em sentido
inverso ao que imaginamos ou prevemos.
Na realidade das relações políticas, por exemplo, em qualquer âmbito, o embate
entre esquerda e direita ou, como diria o Paulo Freire, entre uma ideologia mais inclusiva e outra mais excludente, movimenta o tabuleiro de xadrez que é a sociedade,
cada agente e instituição jogando conforme as regras do jogo.
Esse embate
levará a novos movimentos que, conforme uma série de fatores, fará triunfar ou sair na frente determinada orientação político-ideológica.
Realidades institucionais exemplificam isso muito bem.
A escola,
por exemplo.
Dentro dela, dizer-se de “esquerda” e “direita” tem efeitos
em si mesmo, pois discurso é prática social, mas não
necessariamente acompanhados de práticas mais ou menos emancipadoras,
conforme o lugar que um sujeito defina estar.
Pode ser que determinadas práticas neguem o que o discurso afirma. E determinado agente, achando que está à esquerda, acabe por fortalecer ideias e pessoas à direita. Ou que, mesmo estando politicamente à direita, eduque-se de modo eficaz e, com isso, garanta-se oportunidades de emancipação aos alunos.
Em outras palavras: na escola não basta dizer que é contra ou a favor determinado partido ou personagem político, ou que é leitor de Paulo Freire ou Emília Ferrero. Em cada atitude cotidiana é
necessário voltar e reafirmar os compromissos políticos mais importantes que se
tem. Não no discurso, mas na prática, que é um discurso. No
zelo que temos pelo que fazemos, no compromisso real com os alunos que
atendemos, no esforço em buscara soluções para as questões que
surgem das práticas pedagógicas e, como consequência de tudo isso, nas posições políticas que assumimos em movimentos que extrapolam a escola etc.
Sou diretor de escola há 3 anos e já presenciei diversas
situações em que percebemos esse movimento contraditório da sociedade dentro da
escola. E, reconhecendo as minhas próprias contradições, no entanto, a sensação de dever cumprido em mim é enorme,
especialmente em momentos em que, por causa de nossos movimentos, provocamos a emergência
de contradições latentes, mas que não levarão a transformações se
permanecerem ocultas. É preciso que venham à luz para provocar novos movimentos
transformadores.
E.S.C, 31.03.2019
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